segunda-feira, 29 de dezembro de 2014

Misguided Ghosts

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Naquela sopa de chuva meu reflexo parecia claro
Observava-me de baixo para cima, com as botas azuis sujas de lama. Meu cabelo marrom voava junto com o vento, enquanto carros passavam por todos os cantos.
Ninguém me notava.
Como se eu fosse invisível.
Como se eu fosse um fantasma.
Pisei na poça ensopando meus jeans. Suspirei. Caminhei sem olhar para trás, tentando divergir meus pensamentos de você. Dos meus fantasmas. Desses mistérios que tanto me aflingem, corações partidos e mentes doentias. Corria em círculos fugindo para onde não sabia. Mas sua voz voltava em ecoos sussurados no meu ouvido.
"Porque" era a palavra que não saia da minha consciência
Seguro a mala com mais força, puxo-a contra o peito. O céu começou a chorar e sinto a lagrima do nosso último encontro escorrer na minha bochecha.
Eu não me importei.
Eu te deixei falando sozinho de madrugada. Eu errei tudo. Segui o caminho errado anos mais nova e estou desde então perdida seguindo em frente constantemente virando para trás. Quero sumir.
Meus pés doem de frio nas pontas dos dedos, meu naris parece congelado.
Acompanho meus passos segurando a um corrimão de metal. Ele tem buracos iguais aos que segurava me esperando chegar. Não me esperava mais. Não somos mais os mesmos, 1, 2, 3 —4. Somos todos fantasmas sem rumo. Eu só gostaria poder te enterrar...

segunda-feira, 10 de novembro de 2014

7° Floor Symphony

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Minha capacidade literária está em manutenção
Em quanto isso, aguardem ouvindo uma clássica composição de elevador:
Lá lá lá lá...
Lalalalalá


Lá lá

Du du du daram

Lalalá
Pipipipo
Po lalalá
              ***
Obrigada, agradeço a atenção.

terça-feira, 21 de outubro de 2014

Ossessione

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Me diz o que estou fazendo?
Repetindo esses passos fracassados
Pisando pé em cima do outro como se não estivesse doendo
Mas está.
Está e estive pensando, porquê?

Qual é a lógica desse ilógico sentimento?
A espreita sobem baratas por todos os cantos
Subindo em quadro em cima de outro como se não estivessem intrometendo
Nos meus caminhos, estão
Todos pedra empedrada nos asfaltos.
Até trancada em casa te vejo andando na esquina
E sorri
Flutuando igual a uma princesa, voluptuosa
Seus dentes perfeitos me mordem e me escondo
Como se não estivesse desesperada, desamparada, tremendo.

Mas estou
Acabada.
Vocês três existiam antes.
Cada uma pétala de um trevo.
Todo esse tempo pensava que era minha sorte
Mas não me atrevo
Mais.

domingo, 12 de outubro de 2014

À sua Maneira

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Sua vida é tão discreta quanto a vestimenta
Não resta nada para imaginação.
Sentimentos cobertos por rendas
Em todo canto deixa rastros de segredos nos decotes cavados prontos para defloração.
Murais tão altos, para que as saias curtas?
Quanto toda saia basta.
Porque andas com uma mascara no rosto?
Nesse baile de corpos nus.
Para que serve a sua própria memória?
No mundo em todos te lembrarão
Exposta na vitrine,
Sem blusa. Sem mangas. Sem cartas.

quinta-feira, 9 de outubro de 2014

Lar doce... Não há

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Não me abalo,
Não descanso
Não posso gritar
Não tem para onde fugir
Estive anos presa em uma caixa de papelão, no meio da calçada da avenida paulista
As marcas de solas de sapato já grafaram meus bracos de tatuagens.
Estive anos parada no meio do nada, com a boca costurada
Andei para todo lado e nunca cheguei a lugar nenhum.
Tentei furar a caixa, 
Arrastar um lábio seco contra o outro para formar um murmúrio
Mas não gosto do que vejo pelos buracos, não sei o que falar
Detesto a realidade
E odeio você também.

sexta-feira, 3 de outubro de 2014

Resposta

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Faz um mês 
E chega de tempo
Chega de não responder
Chega de ficar nesse esconderijo 
Com medo de não encantar
Com medo de não poder...
Ajudar.

Te imagino solitária, reclinada em uma cadeira rotatória com uma mesa de baixo das mãos.
O rosto desbotado,
Coração desconsolado
Que insiste em bater

Vejo em ti, força
O quanto foi forçada a aguentar
Estás descabelada,
Desorientada do que falar, de onde ir.
Mas das suas palavras,
Saem orquestras suaves e puras.

Vejo em ti esperança
Uma respiração leve
Assoprando plumas brancas de sonhos

Levante os braços,
São os pequenos detalhes
Tão gentis como você
Que voam por todos os lados
Esperando alguém para os recolher.

quarta-feira, 6 de agosto de 2014

Cosmopolitando

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O mundo circula na órbita dos final felizes
Mas eu vivia desantenada.
Quando a terra bateu de frente para mim
Deixei de brilhar assustada
com tudo que admiravam por aí.
Sincronizei com os terráqueos,
segui os humanos passo a passo.
Abordei naquele trem da vida curta
e fingi fingir ser infinita
Pulei em cima de possas d'água e pisei na areia fofa.
Nunca mais quis voltar para casa
Fiquei então na terra
E fiz meus felizes para sempre igual a todos
Mas o feliz tinha fim.
E para sempre vivi sem brilho andando nessas ruas desiludida

sexta-feira, 1 de agosto de 2014

Lullaby

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Me deixe ser as cordas do seu violão
A pena que descansa sobre sua bochecha
Ou sua escova de dentes
Eu quero ser o acolchoado da sua cama
As luvas que você veste no frio
A maçaneta torta do seu quarto
Eu posso ser uma pintinha no seu rosto
Uma parasita microscópica no seu coração
O ar que você inala
Porque eu não sou seu casaco?

Quero te manter quente quando a brisa passar
Te abraçar, agarrar, puxar
Beijar, tocar, encantar.

Se você quiser posso ser só eu mesmo.
Mas quero você de presente de aniversário.

terça-feira, 29 de julho de 2014

Lying is the Most Fun a Girl Can Have Without Taking her Clothes off.

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Com os olhos verdes fotofóbicos ela olhava a tela distocida e sem sinal da televisão.
O peludo branco estava em seus braços sonhando, enquanto ela ficava pensando no que não deveria.
Ela não esteve lá, nunca esteve lá. Mas as imagens são tão vívidas que parecem que se infiltraram em sua cabeça tirando todo o tom e a verdade de suas próprias memórias. Tudo que um dia foi seu se tornou fantasia esquecida em baús empoeirados. Mas dele, dele ela lembra. Ela lembra de quando as casas e hoteis foram construidas no bairro perto da estação de trem, que ela nunca conheceu.
A cidade era abandonada, com núvens faroestes. Comeria-as igual agodão doce se elas estivessem doces o sulficiente.
Ela consegue lembrar nitidamente das botas de couro dele, do vermelho em seus lábios, dos trilhos de trem.
Lagrimas escorrem no rosto dela. Todo dia se tormenta com sua imaginação tão criativa do que nunca viu. Ele se amarrou em uma sexta-feira e nunca mais voltou.
Chu-chu
Ela lembra de tudo
Da felicidade a tristeza.
Não basta pensar em todas as outras pessoas quem também algum dia já foram melhor do que ela.
Não a satisfaz comparar pesos e carinhos.
Toda rodada que seu peão da um passo ela lembra do xeque-mate. Do sorriso incomparável
E do brilho dos olhos que ela nunca poderá ver. Dos sonhos que vieram antes
De tudo que já foi um dia
Antes de
chu-chu-chu ...
As rodas sairem dos trilhos.

                       * * *

Ele fez um pacto com o demônio.
Não tem como seguir em frente.
Você sabe, que sempre...
Vamos fazer esses corações adolescentes baterem
Rápido,
Mais rápido.

sexta-feira, 18 de julho de 2014

Biografia

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Talvez eu seja só um prêmio de consolação
No reino dos brinquedos de verdade
Eu sou o carrinho com a roda traseira quebrada
Para todas as pobres crianças que não podem ter outra coisa
Para todos aqueles que não tem nada
                             .
Eu sou um balanço feito de pneu de carro e corda marrom
Nas casas caindo aos pedaços
Perto dos aterros sem construção.
                             .
Você já deve ter me visto como boneca de pano retalhada,
Costurada com as sobras de roupas velhas
Em cima das camas de colchões de plástico amareladas
                              .
Talvez eu seja mesmo um prêmio de consolação
Quando as situações mudam eu me torno lixo, apagada num canto
Mas enquanto sou tudo, ilumino um universo inteiro dos transviados
E não tenha nada nesse mundo que consiga me encher mais de emoção
                              .
Não sou nenhuma femme fatale wanna be
Só vivo dos cacos quebrados, tentando reconstituir
                              .
Sou uma companhia caindo aos pedaços
Preenchendo o lugar dos pedaços caídos das minhas companhias.

terça-feira, 15 de julho de 2014

Future

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Os meus "sim"s se tornaram incertos
Não tem muita correção para os meus sentimentos atodoados
Sou só e apenas sapatos cambaleando nessas ruas povoadas de Campinas
Eu quero pular na frente de um ônibus
Mas o seguro não cobra.
                                «»
- Pense no futuro, pense em uma nova vida - diz seco - Você vai conseguir sair daqui, vai sair eventualmente.
- Vou.
                                «»
Mas não com as mãos intercaladas com as suas.
                                «»
Interrompo os pesadelos com tosses secas
Paro de pensar em você
Não existe esperança.
Eu não sei se você não entendeu ainda;
Quando acabarmos de escavar o túnel
Acharemos pó
E ele voará mais alto do que a asas dos condores romanticistas
Enquanto empacados estaremos
No nosso triste infelizes para sempre.

sexta-feira, 11 de julho de 2014

Where is my Demon?

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Os dias passam
E ela esta sentada na cadeira no meio da sala
As folhas caem
E a cadeira rasteja um ruído lento
Os pássaros cantam
E as unhas dela arranham o encosto de couro
O vento assobia nas janela
E o cabelo dela crescido consome seu rosto nas sombras
As luzes apagam
E só se vê o sorriso macabro.
O pesadelo dela a engoliu
E ela some
Na cadeira se repousa um espelho
Você se aproxima
E ela te devora em pedacinhos.
Foi você que a tornou em um mostro.

segunda-feira, 7 de julho de 2014

Zen

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Menino bonito,
Me leve para pasargada
No templo dos monges
Aonde ninguém fala nada
Menino bonito,
Medite comigo
Sinta a terra abaixo
Suspire a paz
Menino bonito,
Eu preciso de calma
Não posso sentir tanta raiva
Não consigo aguentar mais
Menino bonito,
Voe comigo
Vista esses tapetes
Que vamos para longe
Para não voltar jamais.

terça-feira, 3 de junho de 2014

Quando Werther não morreu

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Insano, com uma arma apontada para o rosto dela
Numa festa, anos depois, sedento por vingança
Ele abria um sorriso diante do amor que queria a tanto tempo, que perderá por motivos ridículos.
Seu desejo enfim se realizará.
Alberto não estava presente, era só ele e ela, uma arma e uma multidão apavorada.
Mas algo o distanciou do gatilho.
Carlota já estava morta.
A infelicidade profunda no rosto dela era o suficiente.
Werther gargalha macabramente, os convidados da festa se espantam
Mas ela está quieta
Com os olhos olhando através dele
Para um longe melancólico
Uma lagrima repousa em sua bochecha esquerda
Ele não sabe o que fazer
A visão dela tão desamparada o deixa louco
Enfurecido ele abaixa a arma
Anda até ela
A abraça
E com as vozes trêmulas cochicha:
"Carlota, ah, doce Carlota. O problema então sempre foi você"
E com essa constatação, Werther se sente anestesiado, livre da tortura que fora amar uma mulher desorientada.
Ele se sente vitorioso, finalmente.
Ela é a garota mais triste a segurar um martini.
E isso era mais satisfatório do que matá-la.

domingo, 25 de maio de 2014

25/05

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Hoje todos somos iguais
Hoje todos sentimos frio, fome e medo
Hoje todos nós ouvimos Rock Alternativo
Hoje nossos narizes são gelados
E buscamos meias e casacos nos armários.
Hoje você e eu,
Sentimos o mesmo
Choramos o mesmo
Respiramos o mesmo
Hoje estamos tão perto.
Hoje cantamos, sorrimos, amamos
Algum dia talvez volte a ser igual a hoje
Porque, hoje,
Foi um dia muito feliz.

sexta-feira, 2 de maio de 2014

Alguma Coisa

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Faz tempo que nada é fácil.
Fluente, simples, natural
Eu lembro de quando existia tempo.
Podia rir, pular, chorar.
A vida parecia infinita
Os pensamentos eram bidimensionais
Os anjos todos eram isósceles.
Agora são quatro da manhã de sexta
E pulo, danço, rio
Bêbada da verdade
Com o infinito contado
Até tudo acabar.

domingo, 27 de abril de 2014

Is this it?

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Me seguro a minha poltrona amarela, e estou encolhida sozinha em pleno outono.
Enquanto as folhas caem e a brisa passa, me arrepio.
Gostaria de saber como vim parar aqui
Aqui, no sentido figurado da cadeira imaginária em que me encolho solitária.
Meus lábios estão secos, e com a garganta rouca e ressacada seguro a tosse.
Toda a água reserva foi gasta em gotículas inúteis que correram até ao meu queixo.
Sinto febre e a hipnose ataca meus poucos suspiros.
Cerro as unhas na poltrona que se tornou vermelha
Como chegou a isso?
Como os sorrisos que sorriam sorriem nos meus lábios ressecados?
Nenhum antibiótico faz mais efeito.
Aguardo
Enquanto as super bactérias do seu passado escalam as minhas forças
E não tem fim.

Cubo Mágico

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Tic tock
Tic tock
Tic... Tock
Revirava na cama sem poder descansar.
Vestiu seu óculos, lambeu seus lábios achatados ainda farelados de pão e andou inquietamente pelo corredor.
Tropeçou no seu novo livro.
Já estava cansada de passar tantas noites ao claro sentindo sua existência tão pouco vivida no qual até seus sonhos causavam-lhe desânimo.
Estava cansada também de ouvir músicas, andar sobre rodas e assistir TV.
Bufou centralizando seu cansaço na palma de suas mãos, e as chacoalhou para longe.
Com o indicador esquerdo empurrou o óculos que caia sobre seu nariz.
Aproveitou e viu as horas no seu pulso.
2:10 da manhã.
O tal do número que a perseguia por toda parte.
Hiperventilando, começou a chorar sem saber porquê.
Queria um motivo para viver.
Correu até porta então, destrancou-a e apertou o botão secreto para sua liberdade.
Aquela caixinha quase quadrada e metálica tornou-se seu portal.
Os espelhos a refletiam da forma que ela se sentia num caleidoscópio amarelo e azul marinho
E começou a subir
Parou no vigésimo primeiro
E entrou junto dela um garoto tímido em seus pijamas largos
Se olharam encabulados, ela mexeu na sua mecha vermelha do seu curto cabelo
Ele mordeu os lábios
Ela tombou na ponta dos pés
Ele apertou seu próprio joelho
Eles se olharam novamente, e desta vez soltaram um sorrisinho
2:21
Estava na hora
Deveria estar
Chegando mais perto, ela o beijou na bochecha
Ele fechou os olhos, suspirou
Ela também fechou, continuou beijando sua bochecha até ele delicadamente mover seu rosto para frente ao dela.

Acordou num pulo triste, vestiu seu óculos, e se abraçou.
Começou a chorar
Sem saber porquê
Queria um motivo para viver.
Se levantou e foi chamar o elevador
Mas ele ainda estava quebrado.

Quanta Ironia Anna

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Eu queria ver seu rosto ao abrir o livrinho que eu fiz
Curiosamente imaginava que derreteria em prantos como fez comigo.
Mas o seu rosto não existe mais.

Eu queria sentir seu abraço protetor ao passar a multidão
Instintivamente acreditei que seria quente como a água da garrafa que tomou comigo.
Mas o seu abraço não existe mais.

Eu queria ouvir sua voz rouca cantar nos meus ouvidos
Vagamente pensei que seria alta como o dia em que gritou comigo.
Mas a sua voz não existe mais.

Eu queria beijar os seus lábios agridoces
Agressivamente agi como o primeiro dia no qual brigou comigo.
Mas os seus lábios não existem mais.

Eu queria degustar das suas bochechas acinzentadas
Casualmente interpretei um cachorro como o cachorro que você foi comigo.
Mas as suas bochechas não existem mais.

Eu queria matar você
Secamente.
E matei
Agora você não existe mais \(•u•)/

Cantiga de Amigo

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Seu corpo foi levado para o campo de batalha
Sua alma desapareceu na confusão
Enquanto eu seguro em minhas mãos
Os batimentos
Do que sobrou do seu coração
E eu pedi para as nuvens te trazerem de volta
Mas elas tornaram-se cinzas sobre o mar
E o frio transformou meu planetário
Arrastada pelo inferno eburneo do seu olhar
O chão em que piso não existe
E as palavras prometidas são o único concreto
De que existiu
Alguma coisa.

Seu corpo foi levado para o campo de batalha
E o que me resta é a solidão
As rosas morrem no terreno que vivemos
Mas peço para elas guardarem a memória
Dos batuques do seu acordião.

Seu corpo foi levado para o campo de batalha
Uma inabalável contradição.
Eu guardei tudo
Selado em plástico bolha
Para quando voltasse
A minha recordação.

Seu corpo foi levado para o campo de batalha
E tenho certeza que foi armação.
Ato de macumba escancarada
Amargurices sem noção
A terra em que gravito não existe
E as palavras que escrevo são o único concreto
De que existe
Alguma coisa.

sábado, 19 de abril de 2014

Missing

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eu sinto falta das cenas ordinárias
dos dias deitados olhando o teto mastigando chicletes
do seu rosto ruborizado
do piso de madeira do seu quarto
e da curta distancia que nos obrigava a proximidade
eu sinto falta de correr sem folego
para morder seu nariz.
se eu soubesse escrever bem,
faria um cd
inteiro só sobre você.
ele não teria essas riminhas bregas
e essas palavras genéricas
a melodia lembraria os seus olhos
cinzas.
se eu tivesse voz...
eu sentiria falta de quando falava do seu lado
do seu abraço, dos seus ursinhos
ah, como eu sinto falta.
e já faz um ano
que a falta sente

do que ainda vai acontecer.

sexta-feira, 7 de março de 2014

A Garota do Cabelo Azul

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Foragidos num fundo de um ônibus eles se aninhavam um no braço do outro. Dentro de suas malas pesadas carregavam apenas melancolia e sofrimento. O dia pálido caia nas janelas cinzas, as rodas giravam buscando chegar
Chegariam ao seu destino
Mas ela encarando as janelas desejava nunca chegar.
Gostaria de fugir para um mundo distante aonde só existissem os dois.
Mas eles já se sentiam tão sozinhos.
Com os dedos interlaçados ele a cobria com seu único casaco. Se olhavam. Ele com o mesmo brilho de um ano atras. Ela cheia de lagrimas escorrendo em seus cantos.
Seus sorrisos tristonhos eram feitos de trapos.
E sua esperança era uma corda de barbante rasgada
Não tinham chão,
Não tinham teto
Não tinham nada.

No meio dessa desolação, porém,
Uma garota com os cabelos azuis com as mãos tremulas os entrega uma folha rasgada de um livro de poesias do Vinicius de Moraes.

"DUAS CANÇÕES DE SILÊNCIO

I
Ouve como o silêncio
Se fez de repente
Para o nosso amor

Horizontalmente...

II
Crê apenas no amor
E em mais nada
Cala; escuta o silêncio
Que nos fala
Mais intimamente; ouve
Sossegada
O amor que despetala
O silêncio...

Deixa as palavras à poesia..."

Na margem de baixo estava escrito em giz de cera marrom:
"Vocês são um par muito bonito"
Sem saber com aquele pequeno gesto
Ela os deu força
Para apertarem suas mãos com firmeza
E viver.
 

Uma Pequena Blooper © 2010

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