domingo, 27 de abril de 2014

Cantiga de Amigo

Seu corpo foi levado para o campo de batalha
Sua alma desapareceu na confusão
Enquanto eu seguro em minhas mãos
Os batimentos
Do que sobrou do seu coração
E eu pedi para as nuvens te trazerem de volta
Mas elas tornaram-se cinzas sobre o mar
E o frio transformou meu planetário
Arrastada pelo inferno eburneo do seu olhar
O chão em que piso não existe
E as palavras prometidas são o único concreto
De que existiu
Alguma coisa.

Seu corpo foi levado para o campo de batalha
E o que me resta é a solidão
As rosas morrem no terreno que vivemos
Mas peço para elas guardarem a memória
Dos batuques do seu acordião.

Seu corpo foi levado para o campo de batalha
Uma inabalável contradição.
Eu guardei tudo
Selado em plástico bolha
Para quando voltasse
A minha recordação.

Seu corpo foi levado para o campo de batalha
E tenho certeza que foi armação.
Ato de macumba escancarada
Amargurices sem noção
A terra em que gravito não existe
E as palavras que escrevo são o único concreto
De que existe
Alguma coisa.

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