quinta-feira, 20 de agosto de 2015

ESCURO-ESCURO

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Suspirando ofegante entre os paletós ela se segurava contra a pequena abertura do armário tentando se manter estática. 
- Vinte e oito, vinte e nove... trinta! Lá vou eu! - ouvia seu irmão vindo de bem longe.
Sorria nervosa no escuro escondida. Possuía um pequeno campo de visão do banheiro da casa da sua madrasta: a banheira bege com uma toalha amórfica repousada no canto e as cortinas de plástico com desenhos de flores que pareciam morcegos lúgubres na penumbra.  
Os passos do irmão ainda distantes somados a sua respiração arfante eram os únicos sons transpondo o silêncio profundo da casa de madeira. Ela esperava tão angustiada e sapeca, queria dar uma bisbilhotada para fora do armário, mas não arriscaria ser vista. 
- Mariana! - Grita o irmão entre gargalhadas. 
 Típico, a Mari era péssima em se esconder. 
Eles continuaram juntos a procura. Cada hora ela ouvia eles andando e chegando perto. Achavam todos rapidamente, menos ela.
Impaciente ela pensava em sair do esconderijo e se revelar. Era a única ainda escondida. Prestes a expor-se ouve os passos chegando mais perto, o piso de madeira estalando a cada pegada. Ela segurava seu coração no peito enquanto o banheiro era preenchido cada vez mais pelo escuro. Frenética, agarrava as mangas dos paletós de seu pai e enfiava suas unhas fundo no tecido. O escuro se aproximava lentamente até parar bem ao lado da fresta. Ela conseguia sentir a respiração dele do seu lado.  Estava a beira de desmaiar de tanta ansiedade, quando percebeu.
Conseguia ver uma figura disforme no reflexo da torneira da banheira bege - escuro e imenso. Muito maior que seu irmão.

domingo, 16 de agosto de 2015

Vinho Branco Suave

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O ventríloquo bêbado tem a voz mais bonita
Ele canta suave sem o boneco em mãos
Seu sorriso contagia, suas lagrimas me contaminam
O ventríloquo bêbado se torna humano
Gesticula os lábios com gosto
Gosta de abusar das covinhas
E eu gosto dele.

O ventríloquo bêbado solta seus pensamentos em alto e bom tom
Não mentes, não finge um disfarce
O ventríloquo, bêbado, enlouquece
Bate nas paredes e chora
Tudo que guarda para sí explode em cena
O ventríloquo segura o bonequinho tão forte que suas palmas ardem

Garoto, é tão novo
Sinta
Grite
Beba mais,

Ou vem tri louco me abraçar.

 

Uma Pequena Blooper © 2010

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